segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sobre o meu violão...

Desde pequeno que eu sempre quis aprender a tocar um instrumento musical. Minha mãe conta que uma vez, quando era bebê, eu estava mamando no peito, e minha tia colocou um disco (na época do vinil ainda) da Maria Bethânia, eu acho. Logo na primeira música, havia uma introdução suave, tocada no violão. Minha mãe diz que assim que ouvi a música, parei de mamar e olhei atendo em direção ao quarto da minha tia, de onde vinha aquele som. Talvez seja essa a origem da minha paixão pelo instrumento.

Poucos anos mais tarde, eu ganhei um teclado de infantil da Casio. Esse foi o meu contato real com um instrumento musical, porém, eu nunca cheguei a aprender a tocar teclado de verdade. Uma vez, eu consegui tirar, de ouvido, aquela música assustadora do plantão da Globo, mas essa foi a minha única experinecia como "tecladista". Eu nem sabia o que estava fazendo, nem que notas estava tocando, eu apenas conhecia a posição das teclas que devia tocar.

Passaram-se mais alguns anos e eu pedi para a minha mãe uma gaita de presente. Porém, não ganhei. Ela não quis me dar porque na época eu tinha um jogo de vídeo game cujo personagem principal utilizava uma ocarina para viajar no tempo. Ela achou que eu estava impressionado com o jogo e que por isso queria a gaita. Embora fosse uma criança na época, eu acho pouco provável viajar no tempo com a ajuda de uma gaita, mas entendo perfeitamente os sentimentos de uma mãe que tenha medo de ver seu filho de 11 anos viajando pelo tempo desacompanhado (rs).

Então que apelei e pedi a gaita para a minha avó, mas ela também não me deu. Ela foi mais sutil, me dizendo que gaita era coisa de "vagabundo". Na verdade, eu queria tanto uma gaita porque eu sempre gostei daquelas musicas americanas que são tocadas ao som de violão e gaita. Achei que essa era uma espécie de "porta de entrada" para o meu objetivo principal, que sempre foi o violão.

Enfim, isso meio que esfriou os meus "sonhos musicais", mas ainda assim, de vez em quando, eu pedia para alguém um violão de presente. O som desse instrumento sempre me fascinou por sua suavidade intensa que flui pelo corpo mesmo quando é tocado com toda a potência. Somente aos 21 anos que eu comprei o meu violão. Eu estava decidido a aprender a tocar, pois aquela vontade já havia sido adiada por tempo demais.

Eu comprei um Estudante nº 18, da Di Giorgio. Mas a escolha não foi totalmente minha. Dos modelos que nós vimos na loja, ele foi o favorito da minha mãe, que estava comigo. No dia, ela me disse que ele era o "mais bonitos dos violões baratos". Como o dinheiro não era o meu, e sim o dela, acabei ficando com ele mesmo. Não me entendam mal, eu também achei bonito, mas sonhava com uns modelos elétro-acústicos, com afinador embutido e cordas de aço. Ou seja, algo completamente diferente do Obede. Sim, meu violão tem nome, mas isso eu já já vou te explicar.

Prosseguindo, eu comprei o violão simples, acústico e de nylon mesmo. Só pra deixar claro, eu não fiquei decepcionado com isso não, pelo contrário, eu estava muito feliz, afinal um sonho meu havia se realizado. Fiquei uns três meses conhecendo o instrumento antes de começar a fazer aula. Só que antes disso, dois dias depois de ter comprado o violão, eu arrebentei uma das cordas do violão, dada a minha aptidão para o instrumento (rs). Esse nem foi o problema, porque eu havia comprado um encordamento reserva. Eu sabia que isso podia acontecer. Meu problema foi que, duas semanas depois, arrebentei outra corda. Então comecei a ficar preocupado, pois se continuasse naquele ritmo, seria mais fácil pra mim aprender a tocar "Air guitar" (rs).

Mais algum tempo depois, eu estava assistindo a uma entrevista da Mallu Magalhães, aquela menina-prodígio da música popular brasileira que canta em inglês (irônico, não?), e ela estava contando que os seus instrumentos musicais têm nome, porque ela os enxerga como amigos. Por mais bobo que isso possa parecer, depois dessa entrevista, comecei a me perguntar sobre qual seria o nome que eu daria para o meu violão. E acredite ou não, isso ficou na minha cabeça durante um tempinho.

Até que um dia, eu estava ouvindo uma pregação de um pastor numa rádio, e ele falou que o nome do avô do rei Davi era Obede (Mateus 1.5; Lucas 3.32), que significava "aquele que louva". Foi então que, na minha cabeça, houve um estalo e pensei: "É esse!!!!!". Por isso batizei o violão de Obede.

Porém, ainda ficou uma dúvida em mim. Queria me certificar que aquele era realmente o significado do nome do avô de Davi. Até que, um dia, folheando um dicionário bíblico que tenho aqui em casa, vi o nome Obede. Na verdade, Obede significa "aquele que serve", e saber disso me deixou um pouco frustrado, pois "aquele que louva" era o nome ideal para um violão. Respondida a dúvida, deixei isso de lado, pois achei uma grande bobagem (e até mesmo carência) dar nome a um objeto, que logo voltou a ser apenas um violão pra mim.

Não demorou muito, e Senhor falou algo ao meu coração. Eu estava voltando da faculdade pra casa, quando comecei a meditar sobre "obediência". Pensamento vai, pensamento vem, e Deus me levou a pensar na origem das palavras. Esse é um assunto que eu gosto muito, pois toda palavra da língua portuguesa tem uma origem, seja ela do latin, do grego, do inglês, do hebraico, do árabe, e por ai vai... Então comecei a pensar que se separarmos os afixos da palavra "obedi|ência" encontraremos as palavras "obede" (aquele que serve) e "ciência"(que significa saber). Ou seja, pensando assim, pelos seus aparentes significados, obedecer nada mais é do que saber, ou melhor, ter consciência de que você está servindo. Em outras palavras, obedecer significar servir com sinceridade... obedecer é servir de livre e espontânea vontade.

Eu achei isso muito louco e fiquei eufórico. Nem sei se isso está etimologicamente correto, mas e dai? Deus usou toda essa história maluca de dar nome a um violão para me ensinar sobre livre arbítrio, sobre entrega e sobre o porque de Ele ser tão fiel àqueles que O servem com sinceridade de coração.

Talvez para alguns seja difícil entender isso, mas nós somos separados de Deus. Ele é o nosso criador e nos criou como seres completamente distintos d'Ele. Enquanto Ele é santo, nós temos que nos santificar a Ele. Muitos pensam que Deus muda o caráter e o comportamento das pessoas, eu não acho isso. Creio que o poder de mudança é nosso, o que o Senhor faz é nos mostrar o Caminho. Se a transformação fosse algo imposto, muitos não teria se recusado a seguir a Jesus e não teriam endurecido o coração a ponto de O crucificarem com um toque de crueldade. Se Deus "forçasse" a mudança, muitos não o rejeitariam hoje, muitos não se negariam a se submeter os Seus ensinamentos. Muitos não se negariam a se arrepender.

Por isso que Deus é fiel àqueles que se entregam com sinceridade a Ele. Pois, amar e servir não são coisas que são impostas, não são coisas que surgem do nada. Claro que nada é impossível para Deus e há os casos, como o do apóstolo Paulo, em que o encontro com Ele é tão intenso que o amor pelo Pai surge imediatamente no coração. Porém, na maioria das vezes (e olhando para a igreja, nós constatamos isso), é necessário longo período de conhecimento para nós venhamos a verdadeiramente amar ao Senhor. É algo como se o noivo (Jesus) cortejasse e conhecesse a Sua noiva (Igreja). Amar é uma decisão, e ninguém ama sem abrir o coração, o que muitas vezes leva tempo. Amor forçado não é amor e servir forçado é escravidão. Ninguém ama sem servir e não há como servir sem amor.

No evangelho de João, capitulo 4, há o relato do encontro de Jesus com uma mulher samaritana. É a passagem em que Jesus se assenta a beira do poço de Jacó e pede água a mulher. Depois de conversar com ela, Ele disse:

" Creia em Mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. Você, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e em verdade. São esses os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." (João 4.21-24)

Assim que você puder leia essa passagem inteira. Se for necessário, pare de ler esta postagem agora e leia a palavra, medite nela e o Senhor também ministrará ao seu coração. Adorar em espírito e em verdade nada mais é do que amar ao Senhor de todo o coração.

Uma coisa que eu acho lindo em Deus e essa é uma das coisas que eu mais amo n'Ele, é que Ele fez tudo com uma simplicidade bastante complexa. Tão complexa que nós só conseguimos enxergar quando Ele abre os nossos olhos. Não é à toa que a palavra usa a metáfora do casamento para explicar a relação entre Cristo e a Igreja. Um casal que não se conhece completamente, não sente paz para firmar o compromisso maior como é o do casamento, pois se eles não se conhecem, eles não se amam de verdade. Não existe isso de amor à primeira vista, existe "encantamento" que gera uma predisposição ao que, um dia, pode ser amor. Para amar alguém, você precisa, em primeiro lugar, ter o coração aberto para aquela pessoa. Sinceridade, coração aberto ao Amor... Deus é livre em nossas vidas quando encontra isso em nós...

Depois de compreender isso sobre "servir", fiz questão de dar o nome de Obede ao meu violão, por mais bobo que isso possa parecer. Esse é o nome perfeito para ele, afinal, um violão é feito para a música, feito para louvar a Deus. Pórem, louvar é mais que apenas isso. Louvar é sim adorar a Deus com músicas, mas o louvor e a adoração vão além das palavras, dos versos e das melodias. Servir ao Senhor é louvá-Lo com nossas vidas, é transformar a nossa vida em uma linda canção de amor, dia a dia dedicada a Ele. É isso o que Ele busca... em espírito e em verdade...

Engraçado como, aos poucos, Deus tem me mostrado que o meu violão pode de me servir, também, como uma espécie de metáfora para a minha própria vida, para que eu viesse a entender quem eu sou n'Ele. Lembra o que eu falei? A simplicidade de Deus é algo bastante complexo. Podemos encontrar um mesmo principio servindo como base para diversas coisas na vida.

Um belo dia, numa daquelas situações absurdas, não me perguntem porque, um alicate (isso mesmo, a ferramenta) bateu no tampo do meu violão. O que deixou um buraco. É um buraco pequeno, mas, ainda assim, é um buraco, e eu gosto muito de preservar as minhas coisas, ainda mais meu violão que eu gosto tanto.


Um vez, meu professor de violão disse algo pra mim que eu nunca esqueci. Ele disse: "Um violão é um companheiro para toda a vida". Eu fiquei muito triste quando isso aconteceu, por que eu lembrei dessas palavras e comecei a pensar que eu não sabia cuidar direto de coisas que, em tese, são duradouras. O violão tinha deixado de ser perfeito, e confesso que, pensar assim, até chorei de tristeza (rs). Mas logo me recompus e decidi que ia mandá-lo para um luthier consertar, assim ele fosse perfeito de novo.

Depois disso, comecei sentir um desejo de comprar um violão folk, do tipo que eu queria antes da minha mãe "escolher" o violão pra mim. Na época eu não sabia que o nome do modelo que eu queria era esse: "folk". É um violão mais bonito que o que eu tenho agora, e seria legal ter um.

Mas eu tenho me perguntado: "porquê?". Eu não sou músico, nem sei tocar direito, comprar um violão novo seria apenas poder dizer que tenho um violão folk. Isso é vaidade, e a vaidade muitas vezes é o desejo em ser aquilo nós não somos. Há vezes em que a vaidade nos faz desejar ser outra pessoa ao invés de nós mesmo. E esse tipo de vaidade, que no fundo é uma inveja, é causada pela nossa própria insegurança, pois aquele que deseja isso não se conhece de verdade... ainda não possui uma identidade em Deus. Não descarto a possibilidade de comprar um violão folk no futuro, mas só se precisar, porque hoje, eu não preciso de verdade. Depois de repensar bastante, também desisti de mandar o Obede para o luthier pra conserta o buraco. Já explico o porquê.

Houve uma época em que eu queria customizá-lo, queria escreve alguns versos e mandar gravar no corpo do violão, ou então escrever Jesus no braço dele, com uma letra em cada casa, mas vi que isso também seria vaidade. Escrever Jesus não significa nada, afinal, o poder deste Nome não está nas letras e sim no Espírito. As letras são apenas símbolos. Se o nome (letras) tivesse importância, nós o chamaríamos de Yeshua, já que esse é o Seu nome em hebraico, e não teríamos traduzido para Jesus, seu nome em português.

Eu queria deixá-lo menos "simples", deixá-lo único, sabe, "mais bonito". Mas entendi uma coisa, ele é único não porque tem isso ou aquilo, ele é único porque é meu. Ele é único porque durante muito tempo eu sonhei em ter um violão e o Senhor me concedeu um. Eu posso ainda não saber tocar direito, pelo menos não como gostaria, mas eu sei que ele possui um potêncial enorme que eu ainda não consigo tirar dele. Sei disso porque basta dá-lo nas mãos de quem sabe tocar de verdade, o som dele fica lindo. Nas mãos de quem sabe o que faz, qualquer instrumento ou ferramenta revela todo o seu potêncial.

Posso não ser o cantor mais afinado mundo (ser o mais desafinado é uma possibilidade bem maior pra mim rs). Conheço poucas músicas, no máximo, sei tocar umas cinco, fora as duas que eu, para a glória do Senhor, consegui compor. Mas o que faz do meu violão único é aquele momento em que estou sozinho no meu quarto, e sinto de pegá-lo para louvar ao Senhor e me achegar em Sua presença. É em momentos como esse que, aos poucos, o Senhor tem me permitido conhecer todo o potêncial do Obede.

Já faz três anos que eu ganhei o meu violão, e Obede tem muitas histórias. Histórias que, como já falei antes, de certa forma, revelam quem eu sou em Deus. Ele já serviu a mim, já serviu a outras pessoas que precisavam mais dele do que naquele momento, já se feriu, já serviu de cura. Vejo que, assim como Obede, também posso não ser perfeito, posso não ter as carecterísticas esperadas pelas pessoas, muitos podem me considerar mediano, medíocre, ou até normal, no sentido pejorativo da palavra. É até engraçado pensar que já deixei me levar pela maneira como as pessoas me vêm. Posso não ser um violão profissional (rs), mas tenho o meu valor, e o Senhor conhece isso muito bem. Ele conhece o meu íntimo, Ele me ama e me aceita como sou. Me ama por minhas virtudes e quando o assunto são os meus defeitos (buracos rs), Ele nunca me abandonou, nunca me desprezou. Pelo contrário, Ele sempre me mostra o caminho correto. Ele nunca pensou em arrumar um violão mais bonito, com cordas de aço e afinador. Quando Ele me pega, Ele sempre consegue tirar sempre o melhor som de mim. Deus sabe me tocar como ninguém, revelando todo o meu potencial n'Ele.

Assim como o Obede, também tenho minhas feridas (embora nenhuma delas tenha sido provocadas por um alicate voador rs) e essas feridas têm cura. Depois que esse fato do alicate aconteceu, comecei a perceber que o som do violão estava mais bonito. Por um instante, cheguei a pensar que o buraco fosse a causa do belo som. Mas não, não foi o buraco que deixou o som do Obede melhor, foi o tempo, a prática, a experiência... o buraco é umas daquelas coisas que acontecem na vida e hoje, faz parte da história da vida dele, pode-se até dizer que faz parte de quem ele é. O som dele sempre foi o mesmo, eu é quem não sabia tocar, ou seja, não conhecia seu real potencial, o seu valor.

Pode parecer tolice, mas não quero consertá-lo para me lembrar que o meu valor e potencial sempre foram os mesmos. O problema é que antes, eu não me enxergava através do olhos do Senhor. Quando aquela insegurança bater (e ela sempre bate), quero lembrar que basta me deixar levar, me entregar com sinceridade e amor, para servir como intrumento nas mãos de quem sabe o que fazer. E certamente Ele tirará o melhor som da minha vida.

Antes de encerra, eu queria mostrar pra vocês uma das músicas que o Senhor me deu. Como gravei esse video no meu celular, a qualidade não ficou lá a das melhores. Por isso, se você achar o som do video muito baixo, clique aqui e veja a letra da música naquela área de descrição do video no You Tube.



Seja intrumento nas mãos do Pai.
Paz!