sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre o Rio

Certa vez, cinco amigos combinaram de fazer uma trilha pela floresta de sua cidade. Todos esperaram ansiosamente por aquele dia, afinal essa seria uma experiência inédita na vida daqueles jovens. Tendo chegado o dia, os trigêmeos Ricardo (conhecido como Rico), Sofia e Linda juntaram-se aos amigos Renato e Renata, e partiram em direção a floresta. Eles estavam certos de que tudo ocorreria bem, pois eles haviam se preparado e pensado em todos os detalhes, apesar de terem desprezado a ajuda do guia florestal. Confiavam que apenas com a ajuda de instrumentos como um mapa e um rádio estariam seguros.
Depois de quase duas horas de caminhada mata adentro, os jovens resolveram parar para descansar um pouco, comer algo e encher seus cantis de água. Fizeram isso à margem de um rio de águas límpidas e cristalinas. Em meio àquela aparente tranquilidade, Sofia, que por ser a mais inteligente do grupo, ficou responsável pelo mapa e pela bússola, notou que o rio à sua frente não estava no mapa. Em pouco tempo, todos, com exceção de Renata, ficaram convencidos de que estavam perdidos. O desespero começou a tomar conta deles.
Renata havia sido incumbida de encher os cantis d'água, tarefa que ela realizou com as águas do rio. Por isso, ela estava, por enquanto, alheia àquela crise. Cansada, ela lavou o rosto e as mãos no rio, notando, assim, o quanto as águas eram refrescantes e revigorantes. Seu desejo era de mergulhar no rio, mas, ao ouvir um chamado de seus amigos ela voltou a eles. Ao se reintegrar ao grupo, logo ficou a par da situação, porém não demonstrou nenhuma preocupação. Ela só pensava no rio. Renato, o mais observador do grupo, notou a descabida calma de Renata.
– Aconteceu alguma coisa? perguntou ele.
– Aquele rio é diferente. Respondeu Renata.
– Diferente? Como assim? perguntou ele novamente, porém não obteve resposta.
Linda era a portadora do rádio, pois possuía certa facilidade ao se expressar e maior capacidade de argumentação. Ela tentou contato com a base da guarda-florestal pelo rádio. Após várias tentativas sem sucesso, o chiado do rádio apenas aumentava a angústia da perdição daqueles jovens. Arrependido, Renato se lamentou:
– A gente não devia ter desprezado o guia.
Subitamente, Renata se levanta, corre e mergulha no rio. Atônitos, a única reação do grupo foi correr para ver o havia acontecido. Da margem do rio, eles a viram se deixando levar pelo fluir das águas. Ela gargalhava de felicidade e gritava para eles:
– A placa! A placa! Vejam o que tá escrito! Venham!
Perto deles havia uma placa, mas não conseguiam entender sua mensagem, parecia estar escrita em uma língua estrangeira. Toda aquela situação lhes fugia do entendimento. Foi quando eles perderam Renata de vista. Enquanto os trigêmeos entraram em estado de pânico e diziam que Renata havia enlouquecido, Renato apenas conseguia pensar no guia. “O guia saberia o que fazer numa situação dessas”, disse ele, ouvindo como resposta murmúrios e praguejos vindos de Rico, Linda e Sofia. Após uns dez minutos de choro e desespero, Renato sugeriu que o grupo seguisse o curso do rio pela margem. Segundo seu raciocínio, Renata poderia ter onde se segurar em algum lugar ao longo do rio. A idéia foi bem aceita por todos, que logo partiram.
Mas o caminho que beirava o rio era tortuoso, árduo e cansativo. Havia muitas pedras, muitos motivos para que eles tropeçassem. O grupo percebeu, então, a presença de outras placas no decorrer do percurso, todas elas escritas no idioma desconhecido por eles. Sendo assim, eles começaram a usar as placas como ponto de referência para aquela difícil viagem. Rico, que era organizado e bom administrador, ficou responsável pelos alimentos. Em uma das paradas, ele notou que sua mochila estava se esvaziando. Por isso, ficou decido que, enquanto Renato, Sofia e Linda continuariam a caminhada, Rico iria colher algumas frutas, enchendo sua mochila delas. Ele encontraria o restante do pessoal na próxima placa. Sendo assim, os outros três prosseguiram.
Passado cerca de 1Km, Linda começou a reclamar de fome, dores pelo corpo e de bolhas nos pés. Ela parou, alegando que esperaria por Rico. A busca por Renata continuaria, por enquanto, apenas Sofia e Renato. Ao chegarem na placa seguinte, Sofia se demonstrou confusa e intrigada. Ela percebeu que a inclinação do caminho havia mudado.
– Um rio que corre para o alto!? Isso não faz sentido algum! Exclamou ela.
– Esse rio é diferente, disse Renato, lembrando das palavras de sua amiga desaparecida.
– Eu nunca vi isso antes, ele deve ser único! Retrucou Sofia.
De frente para a placa, Renato tentava entender aquela escritura. Então ele pegou seu cantil e tomou um gole da água do rio. Nesse momento, numa revelação repentina, ele percebeu que uma palavra era comum a todas as placas. Por associação, ele deduziu que aquela palavra talvez significasse “Rio”, pois esse era o único ponto em comum entre todas as placas. Disposto a partir, ele teve que deixar Sofia para trás. Além de muito cansada e confusa, ela estava preocupada com seus irmãos.
Portanto, Renato prosseguiu sozinho. Sem os mantimentos de Rico; sem o rádio e a facilidade de relacionamento de Linda; sem o mapa e a inteligência de Sofia. Renato permaneceu só, até se deparar com uma enorme pedra. Como não podia ultrapassá-la, sua jornada a margem do rio aparentemente terminaria ali. Mas ele ainda possuía duas opções: mergulhar no rio ou abrir caminho na mata densa e extremamente fechada que estava ao seu lado. Optou pela mata. Pensou em contornar a pedra e, do outro lado, reencontrar a margem do rio. Ao entrar na mata, viu que a dificuldade era maior do que ele imaginava.
Ao abrir passagem, os galhos batiam em seu corpo, provocando ferimentos. Como já anoitecia, a escuridão tomou conta daquilo que parecia ser um pântano. Cansado e sangrando, Renato se sentou e começou a chorar. Pensava em Renata, em Sofia, em Linda e em Rico. Pensava no guia cuja ajuda fora desprezada por eles. Renato apenas desejava estar em casa. Mas, sufocado pela situação, seu caminho parecia não ter volta. Lembrou das placas e do rio que subia a montanha. Mais uma vez lembrou de Renata e de sua atitude.
Voltando pelo caminho aberto por ele na mata, Renato chegou novamente à beira do rio. Lavou suas mãos e tirou sua roupa para poder lavar seus ferimentos com maior facilidade. Esperava que suas feridas fossem arder. Isso não aconteceu. Pelo contrário, sentiu um refrigério que ia até o mais íntimo de sua alma. Ele, então, lavou seu rosto e, como se escamas caíssem de seus olhos, começou a ver tudo com mais clareza. Parecia que a noite tinha se tornado dia. Olhou para a placa e, por um milagre, entendeu o que estava escrito. A placa dizia:

“Não se preocupe. Apenas mergulhe no rio.”

Tomado por uma alegria nunca antes sentida, Renato mergulhou naquelas águas. Nu, deixou-se levar e lavar pelo fluir do rio. Em meio ao turbilhão da correnteza, descobriu que era impossível afogar-se nesse rio. Percebeu que no fundo rio, no caminho que por ele estava sendo feito, também existiam pedras, mas o próprio rio se encarregava de fazê-lo ultrapassar aqueles obstáculos. “Esse rio é mesmo diferente”, pensou. “Ele é sobrenatural”, gritou Renato. O rio que corria ao contrário o levou para a fonte de onde brotavam suas águas.
Lá, ele encontrou Renata. Ela estava sentada, aprendendo e ouvindo as palavras do guia. Surpreso com aquela cena, Renato se aproximou. Sua nudez já não importava, pois já não tinha o que esconder. Ao ser lavado no rio, suas feridas foram saradas. Ao avistar Renato, o guia foi em sua direção e, com um sorriso no rosto, o abraçou. Sentido o aconchego daquele abraço, Renato se constrangeu e começou a chorar, arrependido por ter rejeitado o guia no inicio daquela jornada.
– Isso já não importa mais, disse o guia. Você se lembrou de mim na sua dificuldade e obedeceu às minhas placas. Você entendeu as minhas palavras e as praticou. Venham, eu vou levá-los para casa.
Renato, lembrando dos trigêmeos, resistiu um pouco. Mas o guia disse:
– Não se preocupe, eles nos alcançarão. Não existe outro caminho para sair dessa floresta escura senão o rio. E não há como fugir do rio.

2 comentários:

Por Ele. disse...

"O rio que corria ao contrário o levou para a fonte de onde brotavam suas águas."

Ontem entrei no rio, encontrei o Guia e cantei:

"Existe um rio Senhor, que flui do teu grande amooooor, águas que correm do tronoooo, águas que curam que limpam...."

Obrigada por ser dele!

Barbara Sancho disse...

Oiiiie!!!
Sério? caraca q benção irmão!!
me alegro por isso,
li esse texto todo ai... caracaaa... Deus ta falando mesmo sobre uuh entrega! Muito profundo isso! Até uma criança entende, sério mesmo!!!!

Vou passar sempre aqui!!
Valeu!!
pazzz, mais de Deus pra vc irmão !!!!!!!!!!!!!!
\o/

" lágrimas podem rolar sobre a minha face mesmo assim eu me alegrarei e me regozijarei no Deus da minha salvação.."